segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Entrevista à autora: 'Tudo começou com uma denúncia'



Margarida Davim, a autora de 'Violência Silênciosa' ©José Sérgio/SOL
Jornalista diz que o livro não condena ninguém. «Ajuda a perceber os contornos de um caso mediático».Zita Seabra, da Alêtheia, decidiu editar este livro por se ter arrependido, um dia, de não ter publicado uma história sobre violência doméstica. O que a moveu a si?
Primeiro, o tema da violência doméstica. Depois, fazia sentido escrever sobre este caso que vinha a acompanhar há meses, no SOL, e sobre o qual tinha muitos elementos que nem sempre tinha tido a oportunidade de publicar. Foi uma forma de aproveitar e desenvolver o material, por exemplo, das centenas de conversas que tive com pessoas que acompanharam as várias épocas da vida de Paco Bandeira.
O SOL foi o primeiro órgão de comunicação social a tratar o caso. Como começou a investigação?
Recebi um e-mail anónimo com uma denúncia, que incluía o número de um processo judicial. A primeira notícia, a dar conta de que Paco Bandeira era acusado de quatro crimes – violência doméstica, maus tratos a menores, devassa da vida privada e posse de arma proibida – saiu em Janeiro. A partir daí, todos os jornais começaram a tratar o assunto.
Nunca entrevistou Paco Bandeira.
Falei sempre com o advogado, que me dizia que ele não queria falar. Depois, o cantor deu entrevistas a outros órgãos de comunicação, dizendo que era alvo de uma cabala. A certo momento, desistiu de falar e só na semana passada voltou a dar uma entrevista, depois de se saber a sentença.
Dos quatro crimes, foi acusado de apenas um: de violência doméstica e com pena suspensa. Esperava isto?
Fazia sentido que a pena fosse suspensa, porque se trata de um crime de violência psicológica e não física. Mas, na história, tudo dava a entender que os dados eram consistentes, fortes.
O livro é mais do que um relato deste processo. Como o caracteriza?
O livro ajuda a perceber os contornos de um caso mediático. Começa com a história da primeira mulher de Paco Bandeira e procura relatar como era a relação dele com as mulheres. Quem ler o livro não vai ficar a saber se ele é culpado ou inocente, porque Violência Silenciosa não condena ninguém, apenas dá pistas sobre a história e fornece dados para que o leitor tenha a noção de que não é preciso sofrer maus tratos para se ser alvo de violência.
Que tipo de mulheres podem ser alvo de violência doméstica?
A resposta é difícil, porque o estereótipo é o de uma mulher frágil. Mas quando falei com Maria Roseta não fiquei com a certeza de que ela seria uma mulher frágil.
Qualquer pessoa pode ser alvo de uma violência destas?
Isso é que é assustador. Como se trata de violência psicológica, não há uma estalada, uma marca no rosto, as mulheres têm mais dificuldade em convencerem-se. Pensam, se calhar, que é normal.
Muitas das pessoas que entrevistou diziam que tinham medo de Paco Bandeira. Teme alguma reacção da parte do cantor?
Não posso temer. O que escrevi no livro é, na essência, o que escrevi para o SOL. E procurei dar uma visão equilibrada da história.
francisca.seabra@sol.pt

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